Primeira
Guerra Mundial
A Primeira Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918,
foi considerada por muitos de seus contemporâneos como a mais terrível das
guerras. Por este motivo, tornou-se conhecida durante muito tempo como “A
Grande Guerra”. Para se compreender os motivos de ter sido uma guerra tão longa
e de proporções catastróficas é necessário relembrar alguns aspectos do cenário
político e econômico mundial das últimas décadas do século XIX.
Na segunda metade do século XIX, a junção entre
capitalismo financeiro e capitalismo industrial proporcionou a integração
econômica mundial, favorecendo assim, principalmente, as nações que haviam
começado seu processo de industrialização. Essas mesmas nações expandiram
significativamente seu território em direção a outros continentes, sobretudo ao
Asiático, ao Africano e à Oceania. A Inglaterra, por exemplo, integrou grandes
países ao seu Império, como a Índia e a Austrália. Todo esse processo é
conceitualmente tratado pelos historiadores como Imperialismo e Neocolonialismo.
Nesse cenário se desencadearam os principais problemas que culminaram no
conflito mundial.
No início da década de 1870, a Alemanha promovia sua
unificação com a Prússia e, ao mesmo tempo, enfrentava a França naquela que
ficou conhecida como Guerra Franco-Prussiana. Ao vencer a França, a Alemanha passou
a ter posse sobre uma região rica em minério de ferro, que foi importantíssima
para o desenvolvimento de sua indústria, incluindo a indústria bélica.
Tratava-se da região de Alsácia e Lorena. A França, na década posterior à
guerra contra a Alemanha, desenvolveu um forte sentimento de revanche, o que
provocava uma enorme tensão na fronteira entre os dois países. A tensão se
agravou quando Otto Von Bismarck, o líder da unificação alemã, estabeleceu uma
aliança com a Áustria-Hungria e com a Itália, que ficou conhecida como Tríplice
Aliança. Essa aliança estabelecia tanto acordos comerciais e financeiros quanto
acordos militares.
A França, que se via progressivamente ameaçada pela
influência que era estabelecida pela Alemanha, passou a firmar acordos, do
mesmo gênero da Tríplice Aliança, com o Império Russo, czarista, em 1894. A
Inglaterra, que era um dos maiores impérios da época e também se resguardava do
avanço alemão e temia sofrer perdas de território e bloqueios econômicos,
acabou se aliando à França e à Rússia, formando assim a Tríplice Entente.
A tensão entre as duas alianças se tornou crescente,
especificamente em algumas regiões, como a península balcânica. Na região dos
Balcãs, dois grandes impérios lutavam para impor um domínio de matiz
nacionalista: o Austro-Húngaro e o Russo. A Rússia procurava expandir sua
ideologia nacionalista eslava (conhecida como Pan-eslavismo) e apoiava a
criação, nos Balcãs, do estado da Grande Sérvia, enquanto que a Áustria-Hungria
se aproveitava da fragilidade do Império Turco-Otomano (que dominou esta região
durante muito tempo) e procurava, com a ajuda da Alemanha, estabelecer um
controle na mesma região, valendo-se também de uma ideologia nacionalista
(conhecida como Pangermanismo). No ano de 1908, a região da Bósnia-Herzegovina
foi anexada pela Áustria-Hungria, o que dificultou a criação da “Grande
Sérvia”. Além disso, a Alemanha tinha interesses comerciais no Oriente Médio,
em especial no Golfo Pérsico, e pretendia construir uma ferrovia de Berlim a
Bagdá, passando pela península balcânica.
O estopim para o conflito entre as duas grandes forças que se concentravam
na região dos Bálcãs veio com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando,
herdeiro do trono da Áustria-Hungria, por um militante da organização
terrorista Mão Negra, de viés nacionalista eslavo. O assassinato do arquiduque
ocorreu em 28 de janeiro de 1914, em Sarajevo, capital da Bósnia. Francisco
Ferdinando tinha ido a Sarajevo com a proposta da criação de uma monarquia
tríplice para região, que seria governada por austríacos, húngaros e eslavos.
Sua morte acirrou os ânimos nacionalistas e conduziu as alianças das principais
potências europeias à guerra.
A Áustria percebeu neste fatídico acontecimento a
oportunidade de atacar a Sérvia e demolir o projeto eslavo de construção de um
forte estado. Sendo assim, Áustria-Hungria e Alemanha deram um ultimato à
Sérvia para solucionar o caso do assassinato de Francisco Ferdinando. A Servia
negou-se a ceder à pressão dos germânicos e, com o apoio da Rússia, sua aliada,
preparou-se para o que veio a seguir: a declaração de guerra por parte da
Áustria-Hungria, que foi formalizada em 28 de julho de 1914. Logo a França
ofereceu apoio à Rússia contra a Áustria-Hungria, o que fez a Alemanha declarar
guerra contra a Rússia e a França. O conflito logo se expandiu para outras
regiões do globo.
A guerra se intensificou quando o exército alemão,
que era o mais moderno da época, rumou em direção à França, passando pelo território
belga, que era neutro. Isso fez com que a Inglaterra, aliada da Rússia,
declarasse guerra à Alemanha. A partir desse momento, a guerra ganhou
proporções cada vez mais catastróficas. As principais formas de tática militar
eram a guerra de trincheiras, ou guerra de posição, que tinha por objetivo a
proteção de territórios conquistados; e a guerra de movimento, ou de avanço de
posições, que era mais ofensiva e contava com armamentos pesados e infantaria
equipada.
Ao longo da guerra, o uso de novas armas,
aperfeiçoadas pela indústria, aliado a novas invenções como o avião e os
tanques, deu aos combates uma característica de impotência por parte dos
soldados. Milhares de homens morreram instantaneamente em bombardeios ou
envoltos em imensas nuvens de gás tóxico. Essa característica produziu um alto
impacto na imaginação das gerações seguintes à guerra.
O ano de 1917 foi decisivo no contexto da “Grande
Guerra”. Nesse ano, a Rússia se retirou do fronte de batalha, haja vista que
seu exército estava obsoleto e sua economia arruinada. Foi neste ano também que
os revolucionários bolcheviques fizeram sua revolução comunista na Rússia, fato
crucial para a efervescência política europeia das décadas seguintes. Foi ainda
em 1917 que os Estados Unidos entraram na guerra ao lado da Inglaterra e da
França e contra a Alemanha, que já não mais tinha a mesma força do início da
guerra. Sendo que, após o fim da Primeira Guerra em 1918, os Estados Unidos
tornaram-se a grande potência fora do continente europeu.
A “Grande Guerra” chegou ao fim em 1918, com vitória
dos aliados da França e grande derrota da Alemanha. O ponto mais importante a
se destacar quanto ao fim da guerra são as determinações do Tratado de
Versalhes. Nessas determinações, os países vencedores não aceitaram a
orientação da Liga das Nações de não submeter a Alemanha derrotada à
indenização pelos danos da guerra. Sendo assim, a Alemanha foi obrigada a ceder
territórios e a reorganizar sua economia tendo em conta o futuro ressarcimento
aos países vencedores da Primeira Guerra, sobretudo a França.
O saldo de mortos durante os cinco anos da Primeira
Guerra foi de um total de 8 milhões, dentre estes, 1.800.000 apenas de alemães.
Esse tipo de mortandade acelerada e terrivelmente impactante tornou a se
repetir a partir de 1939, com a Segunda Guerra Mundial.
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